Artigo: ROTEIRO DE VIDAS SECAS

 

ROTEIRO – Vidas secas (Graciliano Ramos)

Produzido por Prof.ª Cintia Barreto

(Doutora em Literatura Brasileira – UFRJ)

Material do Professor (a)

Disciplina

Língua Portuguesa

Série

9º ano

Título

Literatura e realidade: história de viventes

Descrição

 

Trabalho baseado na leitura do gênero textual romance, forma narrativa longa em prosa (em parágrafos) que, geralmente, envolve um número maior de personagens (em relação à novela e ao conto), um considerável número de conflitos e apresenta, habitualmente, tempo e espaço. Ele, frequentemente, apresenta sequências narrativas (que fazem progredir a ação) e sequências descritivas (que apresentam personagens e cenários).

O romance consagrou-se a partir do século XIX e, nesse momento, tinha o papel de refletir sobre a sociedade burguesa. Quanto à temática, pode ser classificado como de aventura, de amor, de memórias, policial, de ficção científica, histórico, social, psicológico, entre outros.

O romance Vidas secas (1938) de Graciliano Ramos é uma obra-prima da literatura nacional. Ele narra a história de uma família de retirantes que luta para sobreviver, no sertão nordestino, por causa dos constantes períodos de seca.

 

Tema

Seca, crítica social e terminologia regional.

Competência(s)

Identificar as características do gênero.

Identificar as ideias principais.

Relacionar título e mensagem do texto.

Analisar a escolha lexical.



Pré-produção

Professor (a), para o trabalho com o romance de Graciliano Ramos, você pode passar o filme O caminho das nuvens (2003) do diretor Vicente Amorim. Baseado em fatos reais, esse road movie (filme que se passa, basicamente, ao longo de uma estrada) mostra a história de uma família humilde nordestina que, a fim de buscar melhores condições de vida, sai de sua cidade. Os problemas sociais do povo nordestino encontram-se no filme. Depois de conhecerem o ambiente de miséria e dificuldade de mudança social no Nordeste, apresentado no filme, os estudantes, no laboratório de informática da escola, ou em casa, podem pesquisar sobre a questão da seca no Brasil.

Com essa pesquisa na enciclopédia virtual, os estudantes estarão mais familiarizados com a questão da seca e, principalmente, poderão refletir sobre a situação da seca no Brasil atualmente.

 

Pós-produção

Depois de assistir ao filme O caminho das nuvens e pesquisar na enciclopédia virtual sobre o gênero romance e o que é a seca, como, onde e por que ocorre no Brasil, você pode sugerir um debate com a turma sobre esses tópicos. Para tanto, divida-a em três grupos. Um grupo pode apresentar causas e consequências da seca (no que diz respeito ao filme); o segundo grupo pode falar sobre aspectos culturais do Nordeste como a exposição oral, a religiosidade, as demandas pessoais etc. e o terceiro grupo pode analisar a construção da história do filme, como: a construção dos personagens (suas características físicas e psicológicas), o enredo (o conjunto de fatos da história), a utilização da cor, das músicas etc.



Material do Professor (a)

 

Vamos conhecer ainda mais sobre a história e as estratégias narrativas de Vidas secas?



Vidas Secasé uma narrativa em treze capítulos, curtos, aparentemente independentes, pois foram publicados, a princípio, como contos, mas que, ao longo da história, formam um todo pela recorrência de motivos e temas. Outra divisão, para a obra, também é proposta por alguns críticos, em três partes: fuga, permanência e fuga novamente. Nesse livro, é contada a história de uma família de retirantes: Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo, o menino mais velho e a cachorra Baleia. Essa família sofre com a seca, com a fome e com a iminência, a todo tempo, da morte.

Na obra, o autor narra, então, a luta desses viventes para sobreviverem apesar de. Apesar da seca, apesar da falta de estudos, apesar da falta de comunicação entre os membros da família, apesar do abuso de poder, apesar das perdas, apesar da falta de perspectivas futuras, apesar de suas próprias vidas. . .secas. A angústia toma conta da história. Os sonhos são pequenos. Seus nomes são pequenos. Seus filhos são pequenos. Seus vocábulos são pequenos; seus sons, guturais, secos de certas palavras, assim como de palavras certas. Secas são suas vidas. Secas estão suas esperanças. Seca e dura é a cama de Sinhá Vitória. Secos são os sentimentos de Fabiano. Seca é a terra. Seco é o céu. Seca é a história sobre os viventes.

 

















Romance é uma forma narrativa longa em prosa (em parágrafos) que, geralmente, envolve um número maior de personagens (em relação à novela e ao conto), um considerável número de conflitos e apresenta, habitualmente, tempo e espaço.



 

Aula 01

Solicitar a leitura do livro Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos. Iniciar por meio da leitura compartilhada do 1º capítulo chamado “Mudança”. Após a leitura do capítulo, promover uma roda de conversa sobre os elementos da narrativa: espaço, tempo, tipo de narrador, personagens, tema central, escolha vocabular. Estimular que façam correlações com situações atuais e que falem o que mais chamou a atenção deles neste primeiro contato com a obra.



Tarefa do Estudante

Como Vidas secas é um romance regionalista, há na obravários termos regionais como: "aió" (bolsa feita de fibra de caroá), "pederneira" (espingarda de caça), "arribação" (tipo de ave), "malotagem" (provisão de mantimentos), entre outros. Esses conferem à obra mais verossimilhança3. Em se tratando de uma história que se passa no sertão nordestino, os vocábulos regionais são imprescindíveis para que o leitor acredite ser verdadeira a história. Ou seja, para que ele perceba o cenário não só pelo espaço descrito, mas também pela seleção vocabular.

É certo que ocorre a modalização da linguagem na obra. Isso é percebido em diferentes momentos. Cabe ao narrador a linguagem polida, culta, com utilização de vocábulos ligados ao sertão, como se pode notar em: “Sinha Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito, dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama de varas. Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira” (RAMOS: 1997:40).

Por outro lado, quando surge a voz de Fabiano, a linguagem se adequa à sua situação de vaqueiro analfabeto: “Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de seu Tomás da bolandeira:

  • Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.”(RAMOS, 1997:27).

     

Produção 01



Agora é com você! Fazer um minidicionário com palavras, expressões (gírias) utilizadas pelos meninos cariocas da sua geração e de sua comunidade. Para isso, separe uma seção para palavras e outra para expressões. Ambas as seções devem mostrar as palavras em ordem alfabética. Seu trabalho deve conter: capa, introdução, sumário, desenvolvimento (as seções) e uma conclusão. Imagine que você vai mostrar esse minidicionário a uma pessoa que vem de outro estado ou até de outro país e essa queira conhecer os termos mais usados hoje pelos jovens cariocas da sua comunidade. Este material pode ficar arquivado no computador e/ou na biblioteca de sua escola para ser consultado por todos.



Produção 02



Criar contos, em dois grupos.



Grupo 1



Contar a história de um menino do sertão nordestino que foi transferido este ano para uma escola pública na zona sul do Rio de Janeiro. Mostre as diferenças lexicais a partir de alguns vocábulos tanto do universo do sertão quanto das palavras e gírias utilizadas pelos meninos cariocas. A ideia é mostrar a diversidade cultural, linguística e, principalmente, o respeito a essa diversidade.



Grupo 2



Fazer o caminho inverso, mostre a história de um menino carioca que foi morar no interior do Ceará e, ao estudar em uma escola pública de lá, encontrou uma realidade vocabular distinta da sua. Mostrem as possíveis trocas lexicais que ocorreram.



  • Divulgar os contos no site do colégio na seção destinada a “Produção Literária”





Produção 03



  • Produzir poemas ou esquetes (cenas teatrais) inspiradas na leitura da obra.



Produção 04



Produzir, individualmente, uma redação dissertativa-argumentativa sobre o tema “Como combater a pobreza no Brasil?” (20 a 30 linhas). Para tanto, apresentar causas, consequências e possíveis sugestões de melhorias para o problema. Escrever, no mínimo, 4 parágrafos (1) Introdução, (2 e 3) desenvolvimento e (4) conclusão.



Material de Apoio

 

Vamos saber um pouco mais sobre Vidas secas?

 

A partir do contexto sócio-político-econômico do Brasil na década de 30 (1930), não é difícil entender o surgimento na prosa brasileira do tema regional, apontando os problemas sociais da época. Escritor regionalista que foi, Graciliano narrou a realidade de uma determinada região e as injustiças sofridas pelas camadas desprestigiadas, assim como ascensão e queda de determinadas estruturas político-sociais.

Graciliano Ramos — o criador — protegido por suas personagens relata e denuncia a luta de uma família para sobreviver no sertão nordestino. Mais do que isso, o autor, a partir da família de Fabiano, denuncia a negligência e os abusos sofridos por todos no pós-guerra e em plena ditadura. Há, na obra, por baixo da história que está na superfície, um discurso político e um discurso popular.

Com Vidas Secas, o autor alagoano escreve a história de um povo sertanejo, buscando uma identidade regional por intermédio de um discurso popular, questionador, político. A voz, ou melhor, o pensamento de Fabiano confunde-se, vez ou outra, com o pensamento de um intelectual da época e da região.

Foi possível Graciliano escrever a história da família de retirantes sobretudo porque, assim como Fabiano, o autor viu de perto a pobreza, a seca, o abuso do poder e o descaso com as pessoas do sertão. Graciliano, nesse sentido, imprime sua identidade no discurso do narrador e busca com ele a identificação de um povo numa terra chamada Brasil.

A obra é feita de ausências: de água, de nomes, sobrenomes, de palavras, de dinheiro, de respeito. O silêncio fala muitas vezes por eles e, Graciliano mostra, a partir de comparações entre homens e animais, a zoomorfização dos homens ― Fabiano se compara, intermitentemente, a um bicho, assim como seu filho ― e a antropomorfização do animal ― Baleia, embora cachorra, possui as sensações mais humanas da história e cabe a ela também o momento mais dramático da narrativa. A ela, Graciliano provê alegrias e tristezas, vida e morte; aos demais personagens, cabe apenas a sobrevivência.

O homem que vive aspira. Dessa forma, Sinhá Vitória aspira a uma cama de verdade, macia. O menino mais novo cobiça ser igual ao pai, vaqueiro, imponente. O menino mais velho contenta-se com a amiga Baleia e aspira às respostas que os pais não podem fornecer. Fabiano almeja ver os filhos estudando, Sinhá Vitória bonita, com roupas novas. Baleia deseja um céu cheio de preás. Todos aspiram à vida. São viventes. São sertanejos natos. E sertanejo, já disse Guimarães, “é sobretudo um forte”.

Ao se ler o romance Vidas secas, é importante observar os elementos que constituem uma narrativa como: o enredo, os personagens, o tempo, o espaço e o narrador.

É importante observar também que o romance éuma narrativa concisa e tem como base a utilização, freqüente, de orações coordenadas, a predominância do discurso indireto livre, a ocorrência de onomatopéias, de interjeições guturais, preferência por substantivos — até os adjetivos são substantivados — bem como o efeito da polifonia com a manifestação de diferentes vozes no momento da enunciação.

 

 

Para saber mais

 

 

1. Casa Museu Graciliano Ramos

 

https://www.youtube.com/watch?v=MexkuJc0S08

 

 

2. Acessar o link e assistir ao filme Vidas secas

 

https://www.youtube.com/watch?v=do-ZTroCt-Y





Links

1. Trechos em RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Record, 1997.

2. http://www.graciliano.com.br/

3. Verossimilhança é a lógica interna de uma narrativa. Ela torna o enredo verdadeiro para o leitor. Um texto pode ser fantástico e ter verossimilhança, pois apresenta elementos que procedem no que diz respeito àquele universo ficcional.

 

 

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Cintia Barreto